Ahhhh, respiro... eu precisava mudar um pouco a cara do blog... era muita densidade e no momento estou numa fase menos café por mais chá, menos barulho por mais silêncio, menos festa por mais quarto, menos carboidrato por mais verde, menos é mais. Algumas vezes.
Tenho refletido a cada dia sobre os efeitos do Tempo no nosso convívio com os outros e, em primeiro plano, com nós mesmos. Corremos tanto, mal respiramos ou respiramos os melhores ares da confusão já conhecida, consumo, tudo rápido pois não temos tempo, todos os dias alguém diz "o tempo está voando" e na verdade o que voa somos nós. Tentamos sobreviver o melhor possível com o que nos ajuda, seja religião, esportes, filosofias... Mas ainda falta algo e tenho descoberto que muita gente vem descobrindo por si mesmas o quão maravilhoso é ser senhor de si num lugar que está fora de conceitos morais, políticos ou sociais. A consciência dessas pessoas é diferente... é singular, ímpar, tenho vontade de ficar observando como essas pessoas se movem, falam, olham, tudo é de verdade, é tranquilizador.
Conexão no silêncio dos corpos, dos movimentos.
São como os paixonados em lua de mel.
Nós não nos calamos, nós temos orkut, facebook, twiter, msn, email, blogs, sites, todo mundo tem algo a dizer e sinto que o mundo quer falar ao mesmo tempo. É tanto barulho que ninguém se escuta e o que nos resta é gritar, gritar, gritar cada vez mais alto até que o grito não basta e tudo explode sei lá pra onde, sei lá como. Parece que os homens estão prestes a explodir. Poluição sonora, poluição subjetiva. Tempo. Corremos tanto que perdemos a consiência de que somos seres humanos, indivíduos como todos os outros, diferentes sim, singulares, mas num ponto todos iguais. Perdemos nossa identidade e tornamo-nos produtos de mercado, do tempo que conhecemos e que não preciso explicar, produto social, produtos de nós mesmos.
Estou no lugar que o filósofo caracterizou como o ponto em que não somos algo definido, ponto nos rituais. É quando a noiva coloca o véu e se desfigura de sua identidade pois não é mais solteira e ainda não é casada, é o calouro pintado, rasgado, raspado, descaracterizado de si pois sai da escola e entra para a universidade, é quando a índia é pintada de forma diferente pois não é mais criança mas ainda não é 'mocinha'...pontos comuns em todos os rituais e encontro-me nele, no meu próprio lugar descaracterizado do meu ritual de vida para que eu, no meio, perceba que existe algo se transformando e que essa transformação será sentida por toda sociedade, planeta.
Não sei mais se minha energia natural é alta (nesse lugar do qual falo) ou se é um ritmo alucinado encharcado e enraizado por tudo ao meu redor, por 27 anos de existir. Não sei mesmo o quanto sou eu e o quanto sou esse tempo insano e consumista, poluidor. Sei que sou muito disso, mas o quanto ainda não descobri. Inclusive meus pensamentos, minhas produções. Não que eu não me sinta bem sendo assim, até hoje tem dado certo, mas será que isso basta? Simpatia, criação, análise, ...tudo maravilhoso... tudo ainda produção, velocidade, mais e mais e mais. Será que isso basta? Basta se dar bem assim? Mesmo honestamente, 'confortável'. Minha essência, personalidade, 'não vou mudar'... essência ou resistência? É difícil para um produto resistir ao mercado, ele não foi feito para isso. Homem produto.
Tenho experimentado tantas sensações novas completamente opostas ao que vivo que sinto-me em profundo mergulho necessário e inevitável (sim, eu resisti) sobre mim mesma. Respirar inflando a barriga, respirar consciente. Germinar grãos, natureza, escutar, escutar, ler caso deseje um diálogo silencioso e honesto. Ler é o melhor diálogo no momento.
Lidamos com o tempo achando que o organizamos "vou comprar uma agenda e organizar meu tempo", "vou otimizar meu tempo", "vou correr mais para fazer mais coisas no tempo", dividimos o tempo ou nós mesmos em blocos. Sempre pensamos em como ganhar mais, mas raras as vezes que entramos em reflexão ou até mesmo crise por tentarmos reduzir, ir mais devagar. Quero essa crise. Quero testar esse Cronos e desacelerar o que faço de forma veloz e acelerar(ou reduzir mais ainda) o que faço com menor velocidade. Quero mover o conceito do tempo que tantos dizem ser relativo mas que ninguém explica isso ou como se faz. Falo do tempo do todo. Uma coisa é considerar o tempo relativo quando se fala de si, mas, e se quiséssemos desacelerar o tempo do mundo, da economia feroz, rápida e cruel, dos eventos, do consumo que tem destruído e poluído tudo, absolutamente tudo? O que seria de nós? Não sei... mas quero experimentar refletir sobre essa 'insensatez' e mais ainda, quero ser insensata do tempo de mim. No máximo eu brigo comigo no final e perpetuo o conceito infeliz de que se encaixar é ser tudo, o tempo todo. Mesmo que se diga que se deseja o contrário.
Quero propor a mim mesma experimentar o que eu ainda não sei que sou.
Quanto tempo vou levar fazendo isso?
O tempo que isso leva.
E só.