Eu quero ir embora. Mais uma vez. Quero ir para a Bahia, onde está meu coração, ou para São Paulo, onde está meu tesão, ou para Londres, onde está meu desafio, ou para a Itália onde está minha aventura, ou para Bali, onde está minha arte. Quero ir embora daqui, de lá, não de mim. Quero sentir-me preenchida de mim, vazia de tudo e de todos, mas só um pouco. Pode ser bom, pode ser preciso. Quero ir embora dessa sensação, ir embora da falta de interesse, do vazio, do supérfluo, das aparências. Quero ir embora da resistência banal. Eu quero entrar em mim, no meu cantinho que é por vezes menor, outras maior, quero expandir e concentrar, vertical, mais vertical, horizontal também, só pro lugar comum ao qual conheço bem. Quero falar comigo sobre as coisas que me afligem, sobre a vida, sobre minhas unhas vermelhas, sobre Foucault, sobre as coisas sutis das quais eu gosto. Trancar a porta do meu quarto. Martelar ripas de madeira para ninguém entrar, mesmo quando os pedidos são cantos lindos e envolventes. Não quero que coisas lindas saiam. Hoje eu não estou a fim de suportar isso.Quero ouvir as músicas de raíz das quais gosto, bem alto. Meu violão. Eu quero ir embora desse monte de fala chata, repetitiva, sem sentido, dessas moralidades que não tem nada de moralidades, são só interesses maquiados. Quero sair, fechar os ouvidos para a hipocrisia, para a falta de expressão, a falta de verdade, de fluidez, de liberdade doce. Quero ir embora da espera maçante, sem sentido, do vício, do chato, da falta de arte e criatividade, de gente circundada por ferro e aço, gente que acha que detém o controle, ou que se acha esperta demais, gente que se acha, que vive 'metendo do pau' na história honesta e inofensiva...alheia. Quero gente que deixa fluir, que se deixa simplesmente, se empenha com o coração, coisas sinceras, não aos abusos, não ao fingir que não percebo, sim aos sorrisos, às gargalhadas oferecidas, contagiantes.. Eu quero gente da paz, gente do amor, gente que não carrega a idade nas costas com suas experiências frustadas como verdades absolutas, valores fundamentais para si mesmos e para outros,

Quero mesmo é gente corajosa, que se desafia a ir naquele lugar que nunca foi, ou que foi e voltou morrendo de medo. Inclusive eu.

Quero ir embora de balão... de balão de festa!