5 de set. de 2009

Castração. Essa foi a primeira palavra que me veio à mente depois de 12 horas de sono. As pessoas se reprimem o tempo todo, sejam sutis ou escancaradas agressões de repressão. Deixamos de falar coisas, de formas várias, deixamos de fazer, de pensar, bloqueamos, escondemos, calamos raivas, amores, desejos, insatisfações. Arrumamos ou criamos problemas e questões em tudo para que tenhamos o aval da nossa limitação voluntária. O homem tende a criar problema em tudo. "Ver chifre na cabeça de cavalo". Pode ser o pão mal assado na padaria, pode ser um roubo no senado, pode ser um eu quero, ou um eu te amo. Nos calamos, reprimimos nossas vontades o tempo todo e isso pode ser considerado nocivo dentro de determinadas graduações. Reprimimos e cortamos tudo o tempo todo, e nem falo dos desejos mais profundos. Pode ser um simples chocolate à meia-noite que nos colocará em culpa. O problema não é o prazer, é o excesso e seu descontrole. O fato é que cada repressão, repreensão, torna-se um ato de castrar-se, de mutilar-se, de moldar-se. Tudo desemboca num rio universal que nos faz insatisfeitos e sempre em busca de alguma coisa; somos seres humanos e isso já nos é inerente. Nos moldamos o tempo todo contra alguma coisa e à favor de alguma coisa, o problema é quando perdemos o sentido e a noção de importância de cada lado. Nos moldamos para nos considerarmos "melhores", mais "evoluídos", "produtivos", "centrados", tudo entre aspas pois os valores são mutáveis. Todos eles. E não tenho medo de afirmar isso pois afirmo agora o que amanhã pode transformar-se em outra coisa.
Nos moldamos, calamos vozes inocentes em prol de qualquer coisa que nos faça ter a sensação de segurança e de controle de volta. Daí vem aquele vazio e acendemos incensos, tomamos um porre ou viajamos para qualquer esquina para "engolirmos" o reprimir que nos impusemos, que impuseram a nós. O pior é quando depois de horas refletindo e sem alguma resposta clara, após um esforço fenomenal de encontrar sentido, razões, nos pegamos desesperados com a frase que soa como um empurrão goela abaixo :"É melhor assim."
Tudo vazio, sem sentido, estranho. Pura preguiça, vício comportamental ou ausência de sabedoria. Maquinar satisfações desse tipo pode se tornar um triste vício. Engendrar o que consideramos correto por necessidade de segurança e linearidade pode ser um risco fatal contra a felicidade e o oposto do que se sugere: a amplitude mágica de se viver.

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