16 de jul. de 2009

Dois dias na presença do amor com seus braços e cheiros e ela desaprendeu a viver...esqueceu-se do que era a vida que levava.
Levantou-se pela manhã e fez um café como de antigo costume. " - Volte à rotina", disse ela a si mesma. Arrependeu-se antes mesmo da água ferver mas seguiu em frente convencendo-se que a vida continua, que aqueles dois dias foram apenas um sonho bom, férias da alma. Engoliu o amargo líquido escuro como se fosse piche, lama, pedra. Saiu logo cedo com o sol ainda frio, passos lentos como que perdida e guiada pelo inconsciente que a empurrava para mais um compromisso cotidiano. Comprou um maço de cigarros; parecia que não fumara por meses. Sentia-se limpa. A voz boa, cantava bem. Olhou as manchetes dos jornais e mais uma vez lembrou-se do amor e de suas conversas sobre atualidades. Ouviu duas mulheres falando de futebol e lembrou-se dele nervoso, feliz, vitorioso com seu time.
Passou por um homem e pediu:
- Uma bala. Não; chiclete.
O senhor olhou-a e perguntou:
-Tudo bem minha filha?
Ela respondeu que não muito , foi se abaixar para pegar e ele continuou:
-Não se arrie. Deixa que eu pego. Não leve o de menta. Leve o de melancia... É mais doce.
Ela: - Qual seu nome?
- Ricardo.
- Tinha que ser... É o nome do meu melhor amigo e do meu filh...ops,não, eu não tenho filho. Do filho que vou ter.
Ele a observava em silêncio e confuso.
Ela:- Então Ricardo, todos os dias que eu passar aqui direi para o senhor "bom dia Ricardo!".
Caminhou lentamente como que tonta e sem rumo adiando o lugar de parar. Sentou-se num banco com o cigarro aceso e o chiclete na mão e quis perder a hora ali, passar o dia observando o vai e vem das pessoas para ver se seu vazio se preenchia. Tudo lembrava o amor. A temperatura, os automóveis, o sol, o próprio corpo dela lembrava ele. Ele estava ali, nela, há poucos minutos. Caminhar com ele era ser turista de lugares conhecidos. Entrou no ônibus e procurou o fone de ouvido para escutar uma música, pensar em seus planos, sonhos, se distrair com o futuro criado. Não encontrou e lembrou-se que ele havia guardado para ela num lugar diferente: "- Pra não confundir com o meu". Achou bom não ter o fone pois ele estava num lugar que o amor guardou. Quis guardar sua vida num lugar escondido, para ele. Quis guardar seus sorrisos, a paz que sentia, seus beijos, gozos e carícias.
Conversou consigo mesma dizendo-se palavras de auto-ajuda, de otimismo e de fraca animação, mas sabia que a vida sem ele era incompleta, a vida com ele era bem melhor. Tentou, como de costume, passar o batom nos lábios carentes dele mas perdia o controle dos dedos até se borrar com um risco que parecia a cena de abandono do filme que nunca fez.
Passou o dia ocupada, trabalhando, oferecendo favores, esforços, doando-se, fazendo tudo que podia para ver se de alguma forma o tempo e o cosmos teriam compaixão e a fariam assim, tão feliz, por mais 24 horas... esses pensamentos terminam assim, como seu amor, incompletos, inacabados... sem fim ...

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